Arlindo Cardoso Lima Neto, Doutor em Otorrinolaringologia pela FMUSP
Mariton Borges de Souza, Aluno de complementação especializada em Otoneurologia Clínica do HCFMUSP
Vivemos o que a ONU chama de “Era do envelhecimento” e dados brasileiros confirmam que a população geriátrica está 2% mais numerosa nos últimos sete anos. O estado de São Paulo já tem sua população composta por 22,7% de idosos, sendo que 4,2% deles tem responsabilidade financeira no domicilio. (IBGE – http://www.ibge.gov.br ).
Esta população não está simplesmente mais velha, ela também tem demandas maiores sobre seu próprio corpo. Indivíduos com mais de 65 anos, hoje em dia, praticam esportes, frequentam faculdades, cursos de artes e línguas estrangeiras, são turistas assíduos, etc. Essa nova realidade faz com que as exigências do individuo idoso sobre seu sistema de equilíbrio sejam bem maiores.
Ao se falar em tontura na terceira idade, remetemo-nos às quatro principais entidades envolvidas, que são as doenças metabólicas (40%), a Síndrome do Desequilíbrio do Idoso – ou Presbiastasia ou Síndrome Multissensorial do Idoso – (22%), A insuficiência vertebrobasilar – IVB – (22%) e a Vertigem Posicional Paroxística Benigna – VPPB – (11%). (Simoceli, et al 2003).
A história clinica feita a partir de anamnese cuidadosa é e sempre será a ferramenta mais importante no diagnostico etiológico em otoneurologia. Há características de tonturas peculiares a cada tipo de etiologia, que não nos cabe discorrer em pormenores aqui. Mesmo assim, a maioria dos diagnósticos se baseia nisso, como por exemplo, o das tonturas de origem metabólica em indivíduos que fazem abusos alimentares ou jejuns prolongados e que se queixam de “sensação de cabeça vazia” ou de que “o corpo flutua”, podendo ser confirmado por exames laboratoriais.
O diagnostico da SDI também é clinico, baseado na historia de desequilíbrio, quedas, desvio da marcha, preferencia visual, etc. Testes como a Posturografia Dinâmica Computadorizada, que pode avaliar os componentes visual, proprioceptivo e vestibular do equilíbrio, ou a Prova Rotatória Pendular Decrescente (as que fornecem informações sobre a velocidade da cadeira comparando-as com a velocidade dos nistagmos), que fornece informações sobre o ganho do reflexo vestíbulo-ocular (RVO), podem ser de grande valia na avaliação funcional dos portadores de SDI, porém são testes dificilmente disponíveis no dia-a-dia do otorrinolaringologista em nosso país.
A VPPB, por sua vez, é facilmente diagnosticada na maioria dos casos pelas manobras diagnosticas, como de Dix-Hallpike e Head Roll. Porém, os novos recursos de observação e gravação dos movimentos oculares por sistema de vídeo (Video-oculografia ou Video-Frenzel) são muito úteis para dirimir dúvidas que possam haver num desses testes posicionais. Nistagmos verticais bilaterais, oftalmoplegias, flutters ou outros movimentos anárquicos são alguns exemplos de alterações centrais que podem ocorrer durante uma manobra diagnóstica, que o sistema de vídeo permite que sejam revisadas, revistas em câmera lenta e arquivadas.
Por ultimo, a IVB também tem diagnóstico clínico que deve ser confirmado e dimensionado por exames de imagem. A literatura tradicional considera a Arteriografia como o exame padrão-ouro na identificação da obstrução na circulação posterior (Sloan et al, 2004). Porém, há aqui duas questões que devem ser levadas em conta:
Dessa forma, reiteramos que a historia clinica não pode ser substituída por qualquer outro método diagnostico, porém os exames de avaliação ocular por vídeo (Video-oculografia e Video-Frenzel), Angiorressonância magnética, Angiotomografia e Doppler transcraniano podem ser novas ferramentas muito úteis para a confirmação e dimensionamento da doença.