Zumbido e/ou perda auditiva foram relatados em 9,6% dos casos no episódio agudo da vertigem posicional paroxística benigna (VPPB)1.
Provável conexão foi encontrada entre VPPB crônica e zumbido, dor cervical, cefaleia, dor generalizada, fadiga, distúrbios visuais, disfunção cognitiva e náusea2.
A relação entre os sistemas vestibular e coclear é bem conhecida. Várias afecções que acometem um desses sistemas podem também envolver o outro, ao mesmo tempo ou posteriormente. Verificou-se que o zumbido, eventualmente associado à VPPB, era moderado ou severo, contínuo ou posicional, mais frequente na cabeça do que nos ouvidos e desaparecia após manobras de reposicionamento de otólitos de Semont e/ou Epley. O alívio imediato do zumbido seria mediado por redução na atividade autonômica, conhecida por afetar esse sintoma3.
Em 19,3% de 171 casos com VPPB e audição normal foi notado zumbido ipsilateral, intermitente e de intensidade leve, que diminuía ou desaparecia com as manobras. Foi aventada a hipótese da origem vestibular, por deslocamento de debris maculares para o ductus reuniens e o ducto coclear4. Os debris maculares, ao se moverem na direção do ducto reuniens ou ducto e saco endolinfáticos, podem desencadear zumbido ipsilateral, surdez súbita ou doença de Menière em casos coexistentes com VPPB5.
Em nossa experiência, 13 (13,0%) de 100 casos com VPPB, por canalitíase de canal semicircular posterior unilateral, relataram zumbido ipsilateral nos episódios vertiginosos posicionais, com avaliação audiológica normal. Sete (53,8%) casos relataram redução ou eliminação do zumbido: dois às manobras diagnósticas de Dix-Hallpike, Pagnini-McClure e hiperextensão cefálica, quatro logo após uma manobra de Epley seguida por duas de Semont na mesma sessão e um à reavaliação sete dias depois. Em alguns casos com contraindicações para as manobras terapêuticas, as manobras diagnósticas podem eliminar a vertigem e o nistagmo posicional durante semanas, meses ou anos; a manobra de Dix-Hallpike repetitiva é um dos recursos para o tratamento da VPPB atípica de canal semicircular posterior5.
Observamos que oito (61,5%) dos 13 casos de VPPB com zumbido referiram diversos sintomas sugestivos de enxaqueca típica, atualmente ou no passado. A possível associação da VPPB aos quadros clínicos de Migrânea e Migrânea vestibular é muito frequente6-8.
Portanto, não apenas as manobras terapêuticas de reposicionamento de otólitos como os procedimentos diagnósticos podem influir na evolução favorável do zumbido em pacientes com VPPB.
Mauricio Malavasi Ganança
Professor Titular de Otorrinolaringologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM)
Heloisa Helena Caovilla
Professor Associado Livre Docente da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM)
Referências