Mauricio Malavasi Ganança, Professor Titular de Otorrinolaringologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM)
Heloisa Helena Caovilla, Professor Associado Livre Docente da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM)
Zumbido e/ou perda auditiva foram relatados em 9,6% dos casos no episódio agudo da vertigem posicional paroxística benigna (VPPB)1.
Provável conexão foi encontrada entre VPPB crônica e zumbido, dor cervical, cefaleia, dor generalizada, fadiga, distúrbios visuais, disfunção cognitiva e náusea2.
A relação entre os sistemas vestibular e coclear é bem conhecida. Várias afecções que acometem um desses sistemas podem também envolver o outro, ao mesmo tempo ou posteriormente. Verificou-se que o zumbido, eventualmente associado à VPPB, era moderado ou severo, contínuo ou posicional, mais frequente na cabeça do que nos ouvidos e desaparecia após manobras de reposicionamento de otólitos de Semont e/ou Epley. O alívio imediato do zumbido seria mediado por redução na atividade autonômica, conhecida por afetar esse sintoma3.
Em 19,3% de 171 casos com VPPB e audição normal foi notado zumbido ipsilateral, intermitente e de intensidade leve, que diminuía ou desaparecia com as manobras. Foi aventada a hipótese da origem vestibular, por deslocamento de debris maculares para o ductus reuniens e o ducto coclear4. Os debris maculares, ao se moverem na direção do ducto reuniens ou ducto e saco endolinfáticos, podem desencadear zumbido ipsilateral, surdez súbita ou doença de Menière em casos coexistentes com VPPB5.
Em nossa experiência, 13 (13,0%) de 100 casos com VPPB, por canalitíase de canal semicircular posterior unilateral, relataram zumbido ipsilateral nos episódios vertiginosos posicionais, com avaliação audiológica normal. Sete (53,8%) casos relataram redução ou eliminação do zumbido: dois às manobras diagnósticas de Dix-Hallpike, Pagnini-McClure e hiperextensão cefálica, quatro logo após uma manobra de Epley seguida por duas de Semont na mesma sessão e um à reavaliação sete dias depois. Em alguns casos com contraindicações para as manobras terapêuticas, as manobras diagnósticas podem eliminar a vertigem e o nistagmo posicional durante semanas, meses ou anos; a manobra de Dix-Hallpike repetitiva é um dos recursos para o tratamento da VPPB atípica de canal semicircular posterior5.
Observamos que oito (61,5%) dos 13 casos de VPPB com zumbido referiram diversos sintomas sugestivos de enxaqueca típica, atualmente ou no passado. A possível associação da VPPB aos quadros clínicos de Migrânea e Migrânea vestibular é muito frequente6-8.
Portanto, não apenas as manobras terapêuticas de reposicionamento de otólitos como os procedimentos diagnósticos podem influir na evolução favorável do zumbido em pacientes com VPPB.
Referências