Prof. Dr. Sérgio Albertino, Doutor em Neurologia e Professor Adjunto IV da Faculdade Fluminense de Medicina
Mariton Borges de Souza, Aluno de complementação especializada em Otoneurologia Clínica do HCFMUSP
O tratamento da enxaqueca tem como finalidade fazer a prevenção dos episódios de cefaleia e sintomas associados, diminuir a frequência, assim como abortar os episódios de cefaleia.
Por ser uma doença muitas vezes incapacitante, o tratamento da enxaqueca acarreta uma melhora importante na qualidade de vida dos doentes. O tratamento inicia com esclarecimento ao doente e aos familiares sobre sua afecção, remoção de fatores desencadeadores, uso de medidas farmacológicas e alternativas não farmacológicas.
Fatores como idade, gênero, doenças associadas, uso continuo de fármacos pelo doente para outras afecções, estado psicológico e adesão ao tratamento proposto devem ser considerados na escolha da terapia farmacológica e não farmacológica, personalizada para obter o melhor resultado.
As medidas essenciais para o controle da doença visam inicialmente alertar para os fatores desencadeadores:
- evitar desencadeantes alimentares (aspartame, chocolate, cafeína, álcool);
- melhorar a qualidade de sono;
- praticar atividade física moderada;
- reduzir o estresse;
- regularizar as condições hormonais femininas;
- evitar o uso excessivo de analgésicos;
- manter padrão de hidratação corporal adequada.
Orienta-se também o paciente para a realização de um diário da enxaqueca, contendo também a relação dos medicamentos utilizados.
Repouso em local com baixa luminosidade e silencioso colaboram no alívio da dor.
A reabilitação vestibular pode ser utilizada isolada ou combinada com o tratamento farmacológico nos casos de instabilidade ou vertigem induzida pelos movimentos.
Tratamento farmacológico – os medicamentos podem ser utilizados nos epispódio de crises e também como profiláticos. A escolha das drogas vai depender da experiência do especialista e das características do paciente.
Tratamento profilático
Indicado quando os ataques são frequentes (acima de três episódios por mês) ou muito severos.
- Betabloqueadores
- Propranolol
- Atenolol
- Metoprolol
- Muito eficazes
- Mecanismo de ação não está totalmente esclarecido na enxaqueca
Efeitos adversos:
- Fadiga – bradicardia – hipotensão – impotência sexual – broncoespasmos
- Contra indicações: doença pulmonar (asma) – insuficiência cardíaca congestiva – bradicardia – hipotensão – doença cérebro-vascular
- Antidepressivos tricíclicos
- Amitriptilina
- Nortriptilina
- Mecanismo de ação: bloqueio de recaptura de monoaminas, principalmente norepinefrina (NE) e serotonina (5-HT), em menor proporção dopamina (DA).
Efeitos adversos:
- Ganho ponderal – Aumento do apetite – Hipotensão postural – Sonolência – Retenção urinária – Disfunção erétil – Glaucoma de ângulo fechado – xerostomia
- Contra indicação absoluta – Associação com Inibidores da monoamina oxidase – IMAO
- Bloqueador de canal de cálcio
- Flunarizina
Efeitos adversos:
- Sonolência – Ganho de peso – Depressão -Efeitos extrapiramidais – parkinsonismo.
- Inibidores seletivos da receptação da serotonina
- Fluoxetina
- Venlafaxina
- Escitalopram
- Sertralina
- Paroxetina
- Duloxetina
Efeitos adversos:
- Náuseas – Anorexia – Insônia – Baixa da libido
- Anticonvulsivantes
- Ácido valpróico
- Divalproato de sódio
- Gabapentina
- Topiramato
Efeitos adversos:
- Astenia – Sonolência – Tremor – Ganho ponderal – Alopecia- alterações cognitivas – Ataxia – Pré-disposição a Nefrolitíase (apenas com topiramato)
Tratamento da crise migranosa
Geralmente a cefaleia está associada a náuseas e, às vezes, vômitos. Portanto, está indicado o uso de antieméticos para melhora da motilidade gástrica e facilitação da absorção da medicação para o tratamento da dor.
- Antieméticos – anti-histamínicos
- Meclizina
- Dimenidrinato
Efeitos adversos:
- Sonolência e sedação – Boca seca – Retenção urinária
- Evitar o uso em caso de: asma – enfisema – glaucoma
- Antieméticos antagonista do receptor da dopamina
- Metoclopramida
Efeito adverso:
- Reações extrapiramidais
- Antiemético inibidor do receptor 5-HT3
- Ondansetrona
- Medicamentos com efeito abortivo nas crises enxaquecosas:
- AINEs: ibuprofeno, naproxeno, cetorolaco
- Corticosteroides: prednisona, dexametasona, hidrocortisona
- Triptanos: Sumatriptano; naratriptano; zolmitriptano; rizatriptano.
REFERÊNCIAS
1 – Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) and C. Road, “The International Classification of Headache Disorders, 3rd edition (beta version),”Cephalalgia, vol. 33, no. 9, pp. 629–808, 2013.
2 – Bordini CA, Roesler C, Oliveira DA, Carvalho DS, Macedo DD, Piovesan E, Melhado EM, et al. Recomendações para o Tratamento da Crise Migranosa – Um consenso brasileiro. Headache Medicine. 2014;5(3):70-81.
3 – Leão AAP, Morison RS. Propagation of spreading cortical depression. J Neurophysiol 1945;8:33-45.